PAPO ÍNTIMO
Tropeço em mim desde sempre, despedaço-me na angústia de ser um ser humano desconhecido
Me esvaio em lágrimas da perda, mas me viro como posso nas cadeias de mim
Me sinto vazia, dentro de mim a vida se esvai
Estou dando de mim o que posso, mas desconheço o que dou
Quero estar sempre junto de alguém que nunca é um alguém que conheço
Tudo o que vive morre, e isto me deixa sem chão
Dentro de mim há um abismo colossal, fora de mim há um abismo igual
Estou brigando com a morte, e a vida não faz nenhum sentido
Eu sou um ser repleto de angustias
Quero o que não tenho, mas não quero o que tenho
Busco longe mim o que não acho aqui dentro
Vejo-me diante de esquálidas figuras do amor
Choro deitada na posição fetal a espera daquela que me deixou nesta solidão sem fim.
Não posso mais viver assim, esta dor tem que cessar, e saio em busca de algo que me alivia e encontro tantas coisas, percorro tantos caminhos, mas a dor não cessa
Mas nesta busca a passos mínimos vou encontrando um ser desconhecido, me assusto de ver que nunca vi, que nunca ouvi os gritos surdos ecoarem em minha intimidade
Algo ali dentro se movia, se escondia, se perturbava, fugia, atacava e se defendia.
E neste caminho vou aos poucos conhecendo este ser, sua formação, suas intenções mais escusas, seus desejos, suas dores, seus dramas, suas alegrias nunca mostradas, suas culpas e desculpas.
E uma fresta de luz se adentra a este quarto escuro, vejo tudo desarrumado e vou organizando, montando este grandioso quebra-cabeças
Mas que na verdade é um ser humano constituído na infância.
E ao conhecer, posso entender e saber.
E consequentemente posso SER.
É TEMPO DE SER.
